Metodologia

Metodologia do Índice de Impacto nas Águas da Amazônia (IIAA)

Por Cecília Gontijo Leal

Alcance da análise de impactos

No projeto Aquazônia, consideramos a Bacia Hidrográfica Amazônica em território brasileiro, que corresponde a 55% da área total da bacia ou 5 milhões de km2. O arcabouço espacial adotado, ou seja, redes hídricas e delimitação das bacias hidrográficas, foi o de Venticinque et al. (2016).

Variáveis de ameaças aos ecossistemas aquáticos

Para elaborar o Índice de Impacto nas Águas da Amazônia (IIAA) levantamos dados espaciais representativos das principais ameaças aos ecossistemas aquáticos da Amazônia: mudanças no uso e cobertura do solo, infraestrutura, degradação florestal e mudanças climáticas. Outras ameaças relevantes, como pesca e contaminação por agrotóxicos, não foram incluídas devido à ausência de dados disponíveis.

Os dados de ocorrência e distribuição das ameaças foram obtidos em bases de dados públicas e gratuitas como Projeto Mapbiomas (2021), Rede Amazônica de Informação Socioambiental (RAISG, 2021), Agência Nacional de Águas (ANA, 2021), Climate Hazards Group Infrared Precipitation with Stations (CHIRPS, 2021) e a partir de artigos científicos (Funk et al.; 2015; Matricardi et al., 2020; Souza et al.; 2020). Quando foi necessário utilizar mais de uma base de dados para a mesma ameaça, excluímos os dados compartilhados entre elas para evitar duplicidade.

Os dados obtidos têm resolução espacial de 30 metros, exceto para precipitação, disponível em 0,05o (aproximadamente 5 Km). Selecionamos nove camadas de dados de ameaças para compor o IIAA: agricultura e pecuária (AGP), área urbanizada (URB), garimpo ilegal (GAR), mineração industrial (MIN), hidrelétricas (HDL), cruzamento de estrada (EST), hidrovia (HID), degradação florestal (DEG) e diferença de precipitação (PRE) (Tabela 1).

Tabela 1. Variáveis de ameaça incluídas no Índice de Impacto nas Águas da Amazônia

Categoria Ameaça Sigla Unidade de medida Fonte dos dados Resolução Ano Peso
Uso do solo Agricultura e pecuária AGP Área percentual (%) Mapbiomas 30 m 2020 2
Uso do solo Área urbanizada URB Área percentual (%) Mapbiomas 30 m 2020 3
Uso do solo Garimpo ilegal GAR Área percentual (%) Mapbiomas, RAISG 30 m 2020 3
Uso do solo Mineração industrial MIN Área percentual (%) Mapbiomas, RAISG 30 m 2020 2
Infraestrutura Hidrelétrica HDL Presença/ausência ANA, RAISG 30 m 2021, 2020 3 e 1
Infraestrutura Cruzamento de estrada EST Densidade (núm/km2) Mapbiomas, RAISG 30 m 2020 1
Infraestrutura Hidrovia HID Densidade (núm/km2) Mapbiomas 30 m 2020 1
Degradação florestal Degradação florestal DEG Área percentual (%) Matricardi et al. 30 m 1992-2014 1
Mudanças climáticas Diferença de precipitação PRE mm CHIRPS 0,05° 1981-2020 2



Para a variável hidrelétricas (HDL), consideramos as barragens de usinas hidrelétricas, pequenas centrais hidrelétricas (PCH) e usinas termelétricas em operação ou em construção. Dentre as hidrovias (HID), incluímos hidrovias em operação. Para representar degradação florestal (DEG), utilizamos os dados de Matricardi et al. (2020) referentes a áreas que foram apenas queimadas, onde houve apenas extração de madeira ou aquelas em que houve os dois tipos de degradação, fogo e extração de madeira.

Como indicador das mudanças climáticas, utilizamos a diferença de precipitação a partir do índice precipDiff proposto por parceiros do projeto Synergize/CNPq:

precipDiff = precip(2001-2020) - precip(1981-2000)

onde precip(2001-2020) é a média anual de precipitação no período entre 2001 e 2020, e precip(1981-2000) é a média anual entre 1981 e 2000. Valores positivos de precipDiff indicam aumento da precipitação média no período e valores negativos, diminuição. A média anual de precipitação foi calculada a partir dos dados diários disponíveis na plataforma CHIRPS (Funk et al. 2015) a partir do Google Earth Engine (GEE).

As variáveis de uso e cobertura do solo, infraestrutura e degradação florestal foram medidas em termos da área percentual ou densidade em cada microbacia. No caso das hidrelétricas, optamos por contabilizar não apenas o número de barragens ou a área ocupada pelo reservatório em cada microbacia, uma vez que isso subestimaria muito a extensão do seu impacto. Assim, contabilizamos as hidrelétricas em duas escalas espaciais: com peso 3 em toda microbacia BL7 onde está localizado seu reservatório e com peso 2 na bacia BL5.

Para incorporar as variáveis com diferentes unidades de medida (e.g. %, mm) no índice, padronizamos cada variável para a escala de 0 a 1.

Cálculo do IIAA

A definição da escala espacial para o cálculo do IIAA baseou-se na classificação de bacias hidrográficas da Amazônia proposta por Venticinque et al. (2016), ‘Amazon GIS-Based River Basin Framework’. Nesta base de dados, a Bacia Amazônica é subdividida em 7 níveis: desde o nível 1 (BL1) representando a bacia inteira, nível 2 (BL2) para as sub-bacias dos principais tributários (ex. Madeira, Tapajós), até o nível 7 (BL7) com bacias menores ou microbacias (i.e 15269 bacias de 300 a 1000 km2). Para o IIAA, utilizamos as microbacias BL7 para garantir maior refinamento ao índice. Assim, para a bacia do rio Amazonas no Brasil, calculamos o IIAA para 11216 microbacias com área média de 479,6 km2.

Em seguida calculamos os valores de cada variável de ameaça para cada microbacia. Para evitar a inclusão de variáveis redundantes, e, portanto, inflar sua influência ao índice, excluímos as variáveis altamente correlacionadas. Verificamos a autocorrelação entre as variáveis a partir do teste de correlação de Pearson.

Para representar a severidade das diferentes ameaças, atribuímos pesos às diferentes variáveis: atividades de maior impacto receberam peso 3, as intermediárias receberam peso 2, e as de menor impacto, peso 1 (Tabela 1).

O valor do IIAA para cada microbacia foi a soma dos valores de cada variável de ameaça multiplicada por seu peso: IIAA= 3*URB + 3*GAR + 3*HDL + 2*AGP + 2*MIN + 2*PRE + EST + HID + DEG

Principais Referências bibliográficas

Bases de dados Agência Nacional de Águas (ANA) acessado em 26/agosto/2021 através do link: www.gov.br/ana/pt-br Rede Amazônica de Informação Socioambiental (RAISG) acessado em 26/agosto/2021 através do link: www.amazoniasocioambiental.org/pt-br/ Projeto MapBiomas – Coleção [versão] da Série Anual de Mapas de Cobertura e Uso de Solo do Brasil, acessado em 26/agosto/2021 através do link: plataforma.brasil.mapbiomas.org CHIRPS: Rainfall Estimates from Rain Gauge and Satellite Observations, acessado em 26/agosto/2021 através do link www.chc.ucsb.edu/data/chirps Amazon Forest Degradation Analytical Spatial Data, acessado em 26/agosto/2021 através do link www.goeslab.us/amazondata.html

Artigos científicos Venticinque et al. (2016). An explicit GIS-based river basin framework for aquatic ecosystem conservation in the Amazon. Earth System Science Data, 8: 651–661. https://doi.org/10.5194/essd-8-651-2016

Matricardi et al. (2020). Long-term forest degradation surpasses deforestation in the Brazilian Amazon. Science, 369: 1378-1382. https://doi.org/10.1126/science.abb3021

Funk et al. (2015). The climate hazards infrared precipitation with stations - a new environmental record for monitoring extremes. Scientific Data, 2: 150066. https://doi.org/10.1038/sdata.2015.66

Souza et al. (2020). Reconstructing three decades of land use and land cover changes in Brazilian biomes with Landsat archive and Earth Engine. Remote Sensing, 12(17): 2735. https://doi.org/10.3390/rs12172735


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